Política monetária no Brasil em tempos de pandemia
Resumo
O artigo discute a determinação da inflação no Brasil, sobretudo a partir da grande
recessão de 2015-2016, para avaliar a adequação da política de manipulação de taxas de
juros para controlar a alta de preços decorrente de pressão permanente de custos. O ônus de
usar a taxa de juros para combater inflação de custo é criar um nível altamente convencional
da taxa de juros real, o que, em uma economia financeirizada, beneficia a classe dos rentistas.
À luz da macroeconomia pós-keynesiana, a convenção de alta taxa de juros mantém a economia
com baixa taxa de crescimento e baixa taxa de investimento, o que no caso da economia
brasileira tem resultado em regressão da matriz produtiva e estagnação da produtividade e
ambos contribuem para perpetuar as pressões de custo sobre os preços. A análise empírica
corrobora a discussão de que a inflação recente teve sua origem em pressões de custos sobre
as quais o impacto da taxa de juros para seu controle é limitado. Complementamos a análise
empírica testando a resposta à taxa de juros SELIC das variáveis utilizadas para explicar a
flutuação dos preços livres e dos preços administrados: índice de preços de commodities, taxa
de câmbio e nível de atividade. Conforme esperado, o impacto da alta da taxa de juros valoriza
a taxa de câmbio, favorecendo o controle da inflação e reduzindo o nível de atividade,
mas não tem impacto no índice de preços das commodities.
Classificação JEL: E12; E31; E43; E52.
Palavras-chave: Inflação de custos política monetária keynesiana inflação inercial economia brasileira