v. 41 n. 4 (2021): Out-Dez/2021


v. 41 n. 4 (2021)

Out-Dez/2021
Publicado em novembro 11, 2021

Artigo


Gastos do governo, câmbio e crescimento: evidências empíricas para a América Latina
Moritz Cruz, Josue Zavaleta
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572021-3030

Utilizando dados de economias selecionadas da América Latina para o período
1990-2017, este artigo visa fornecer evidências empíricas sobre o efeito da desagregação
dos gastos do governo na taxa de câmbio. Nossos resultados indicam que o investimento
do governo deprecia a taxa de câmbio, enquanto o consumo do governo, por outro lado, a
aprecia. Ambos os efeitos são, no entanto, bastante pequenos. Nossos resultados corroboram
a literatura recente que mostra que a relação entre os gastos do governo e a taxa de câmbio
é ambígua, desafiando a ideia geral aceita de que os gastos do governo inevitavelmente
valorizam a taxa de câmbio, tendo, portanto, efeitos negativos sobre o setor comercializável
e sobre o crescimento. No geral, nossos resultados nos permitem sugerir que o crescimento
pode ser estimulado principalmente por meio de investimentos do governo, sem efeitos
prejudiciais sobre a taxa de câmbio.

Classificação JEL: 011; 025; E12; E62.


Taxa de câmbio real e produtividade da indústria brasileira no longo prazo: teoria, modelo e evidências para o período recente
Kayo Cícero Quirino de Souza, Guilherme Jonas C. da Silva
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572021-3158

O objetivo deste trabalho é analisar a relação da taxa de câmbio real com
a produtividade da indústria nos curto e longo prazos. Para testar a hipótese novo-
-desenvolvimentista de que um nível maior da taxa de câmbio real está relacionado com um
maior dinamismo da produtividade da indústria, desenvolve-se um modelo matemático desta
relação teórica e estima-se econometricamente um Modelo Não Linear Autorregressivo
de Defasagem Distribuída (NARDL). Os resultados encontrados são inéditos, já que
demonstram a existência de uma relação positiva entre uma desvalorização real da taxa
de câmbio efetiva e o crescimento da produtividade do trabalho da indústria brasileira no
longo prazo. Ademais, o trabalho conseguiu captar pioneiramente uma assimetria existente
do efeito da (des)valorização sobre a produtividade, ou seja, as estimações mostraram que
a desvalorização afeta positivamente mais a produtividade da indústria brasileira quando
comparado aos efeitos negativos de uma valorização sobre a produtividade.

Classificação JEL: C22; F43.


Estado nacional-desenvolvimentista: primórdios da processualidade histórica-social e ensaios pioneiros
Isaias Albertin de Moraes
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572021-3233

O trabalho procura contribuir com o avanço dos estudos acerca do Estado
nacional e do desenvolvimento econômico. Para tanto, utilizou-se de uma abordagem
transdisciplinar original e singular pautada na teoria sociológica de Pierre Bourdieu e na
história econômica. Os procedimentos metodológicos foram pesquisa bibliográfica de
análise histórica, concreta e indutiva da economia. Os resultados obtidos foram de que
para a edificação de um Estado nacional-desenvolvimentista a sociedade, primeiramente,
precisa estabelecer metacapital e metacampo imersos nos preceitos desenvolvimentistas e
concentradores de soft power e de hard power para, posteriormente, executar o projeto
de ampliação, de integração e de sofisticação da estrutura produtiva.

Classificação JEL: N01; B10; H70.


Influência metodológica na desindustrialização brasileira
Paulo César Morceiro
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572021-3195

Usuários das Contas Nacionais do Brasil frequentemente usam a participação
setorial sobrestimada devido ao dummy financeiro não ser eliminado do PIB setorial.
Isso afeta o nível, pico e formato da série de desindustrialização. Mudanças no sistema
de Contas Nacionais também provocaram quebras seriais, dificultando avaliar o efeito da
abertura comercial na desindustrialização. Este estudo criou séries da participação setorial
no PIB de 1947 a 2019 para contornar o dummy financeiro e as descontinuidades nas
séries de longo prazo. A nova série está mais aderente aos ciclos econômicos, capta o efeito
da abertura comercial e contesta a tese da sobreindustrialização, permitindo um melhor
entendimento do processo de desindustrialização.

Classificação JEL: E23; L16; O14.


Depreciações contracionistas na América Latina durante os anos 2000
Martín Montané, Emiliano Libman, Guido Zack
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572021-3196

Este artigo explora os efeitos da desvalorização cambial sobre o produto
dos principais países latino-americanos que usam as Metas de Inflação há quase duas
décadas. Construímos modelos VAR para Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru nas
últimas duas décadas e descobrimos que as depreciações têm efeitos contracionistas de
curto prazo no Brasil e no México. Ilustramos algumas das implicações de política dessa
descoberta construindo um modelo simples e mostramos que os efeitos contracionistas das
depreciações podem ter efeitos desestabilizadores quando a política monetária é conduzida
usando uma regra de Taylor padrão.

Classificação JEL: E31; E52; E58.


Por que precisamos de um estado de bem-estar social alocativo
Celia Lessa Kerstenetzky
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572021-3356

Neste ensaio, proponho uma agenda para o estado de bem-estar do século 21 que
enfatiza seu papel como mecanismo alocativo. Como os problemas sociais e ambientais estão
fugindo do controle, o tempo da mera compensação passou: urge um mecanismo capaz de
influenciar diretamente os sistemas de produção e os padrões de consumo na reconfiguração
da socioeconomia. Isso se traduz parcialmente em mudança estrutural em direção aos serviços
sociais públicos conduzida pelo estado de bem-estar. Entre as vantagens dessa mudança, além
de resultados socialmente mais equilibrados, estão empregos de qualidade e o atendimento
a necessidades sociais de forma ecologicamente amigável. A função alocativa que confere ao
estado de bem-estar um papel constitutivo na formação da socioeconomia complementa sua
função clássica de compensador de problemas. O estado de bem-estar social alocativo deve
estar preparado para limitar o domínio da alocação de mercado.

Classificação JEL: I38, J08, P16.


A dinâmica da distribuição geográfica das indústrias: evidências para o Brasil (2002-2014)
Roberta de Moraes Rocha, José Ewerton Silva Araújo
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572021-3112

A distribuição geográfica das indústrias brasileiras mudou entre os anos de 2002
e 2014, e foi mais significativa para alguns setores específicos. Com base em Dumais et al.
(2002), exploramos a dinâmica dessas mudanças através da decomposição da variação do
emprego e do índice de concentração bruto estimado para as indústrias de transformação,
que foram agrupadas por nível de intensidade tecnológica. Adicionalmente, investigamos
a direção dos movimentos locacionais das empresas entre as microrregiões. Os resultados
indicam que, entre 2002 e 2014, houve uma tendência de convergência entre a participação
das microrregiões no emprego industrial., contribuindo para a desconcentração industrial
no país, com a exceção do grupo das indústrias de alta tecnologia, que passou a ser mais
concentrado. Componentes do ciclo de vida das indústrias, em especial., o crescimento do
emprego gerado por novas indústrias em microrregiões não metropolitanas foi o principal
impulsionador desta evidência. De maneira geral., as evidências obtidas são consistentes
com a importância das economias de aglomeração sobre os acidentes históricos para
explicar a concentração industrial no Brasil entre os anos de 2002 e 2014.

Classificação JEL: R12; L60.


Uma avaliação dos debates sobre distribuição de renda e crescimento na literatura neokaleckiana
Sulafa Nofal
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572021-3165

A literatura kaleckiana é considerada um tema importante na escola pós-
-keynesiana de pensamento econômico. No rescaldo da crise financeira, os esforços para
a formação de um novo consenso sobre as questões econômicas essenciais, em particular
o crescimento econômico, tornaram-se uma necessidade. Assim, os modelos kaleckianos
voltaram a estar em evidência, uma vez que esses modelos enfrentam o impacto das
mudanças na distribuição da renda e questionam se uma redistribuição da renda fora
dos salários para o lucro é capaz de impulsionar o crescimento. Nesse sentido, este artigo
retorna aos insights kaleckianos e oferece uma discussão teórica dos efeitos distributivos
sobre a demanda agregada e o crescimento econômico. Além disso, através das lentes da
tradição neokaleckiana, pode-se rastrear a evolução do debate sobre os regimes movidos
pelos salários e pelos lucros nas últimas décadas.

Classificação JEL: E21; E12; E11.


O reswitching das técnicas e suas implicações epistemológicas: um aprofundamento da crítica
Alain Herscovici
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572021-3156

Este paper tem por objetivos (a) explicitar os mecanismos a partir dos quais
é formulada a problemática do reswitching das técnicas e (b) analisar as implicações no
que diz respeito à arquitetura geral da macroeconomia neoclássica. Mostrarei como esses
elementos permitem refutar a teoria neoclássica da distribuição da renda, e porque eles se
traduzem pela instabilidade do sistema. Em uma primeira parte, explicitarei os mecanismos
que constituem os fundamentos microeconômicos da macroeconomia neoclássica; em uma
segunda parte, apresentarei as diferentes modalidades de interpretações no que concerne ao
reswitching das técnicas, e aprofundarei as críticas que o arcabouço neoricardiana permite
formular em relação à construção neoclássica.

Classificação JEL: B41; E11; E13.


Sraffa e as “leis dos retornos”: uma análise dos artigos de 1925-1926
José Maria Dias Pereira
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572021-3216

Este artigo faz uma análise de dois textos de Sraffa publicados em 1925 e
1926, com críticas à teoria marginalista dominante, que pressupõe concorrência perfeita e
retornos decrescentes. Sraffa concluiu que esse modelo só se aplica no caso de rendimentos
constantes. Esses dois artigos serviram de base para que Sraffa, quase 30 anos depois,
formulasse uma demolidora crítica à teoria marginalista ou subjetiva do valor ao propor
um modelo de preços e distribuição da renda entre salários e lucros e que não depende da
hipótese de mudanças na escala de produção ou nas proporções dos fatores.

Classificação JEL: D21; D24; D41.

Debate


Aposentadorias e pensões no Brasil: progressivas ou regressivas?
Rodolfo Hoffamann
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572021-3301

Estes comentários são uma reação ao artigo de Cardoso, Dietrich e Souza (2021)
publicado no Brazilian Journal of Political Economy, vol. 41 (1), janeiro-março 2021.

Classificação JEL: D31; D63.


Envelhecimento da população e desigualdade – Resposta a Hoffmann
Eliana Cardoso, Thais Peresh Dietrich, André Portela Souza
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572021-3315

Esta é uma resposta às críticas levantadas pelo Professor Rodolfo Hoffmann ao
nosso artigo “Envelhecimento da população e desigualdade”.

Classificação JEL: D63.