v. 38 n. 1 (2018): Jan-Mar / 2018


v. 38 n. 1 (2018)

Jan-Mar / 2018
Publicado em janeiro 1, 2018

Artigo


Crescimento e distribuição: revisão do modelo clássico
Luiz Carlos Bresser-Pereira
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572018v38n01a01

Este artigo discute a distribuição e as fases históricas do capitalismo. Parte da premissa de que o progresso técnico e o econômico estão em andamento e, dado isso, sua pergunta se refere à distribuição funcional da renda entre trabalho e capital, tendo por referência a teoria clássica da distribuição e a tendência declinante da taxa de lucro de Marx. Partindo da experiência histórica, o artigo primeiramente inverte o modelo, tratando a taxa de lucro como a variável constante no longo prazo e a taxa de salário como o resíduo; em segundo lugar, distingue três tipos de progresso técnico (poupador de capital, neutro e dispendioso de capital) e o aplica à história do capitalismo, tendo por referência o Reino Unido e a França. Dados esses três tipos de progresso técnico, distingue cinco fases de crescimento capitalista, dentre as quais apenas a segunda condiz com a previsão de Marx. Na fase final, correspondente ao e ao Capitalismo Financeiro-Rentista e neoliberal, os salários foram mantidos estagnados, crescendo menos que a produtividade, enquanto a taxa de lucro recuperou-se da queda ocorrida nos anos 1970.

Classificação JEL: D3; O1; O3; O4; P1.


Estabilidade monetária e CEPAL: A heterogeneidade do pensamento estruturalista Latino-Americano
Pedro Luiz Aprigio, André Roncaglia de Carvalho
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572018v38n01a02

O artigo verifica a hipótese de homogeneidade estrita do pensamento estruturalista Latino-Americano em matéria de estabilidade monetária em seus anos iniciais. Em meados da década de 1950, o crescente e contínuo fenômeno inflacionário na região era explicado pela CEPAL como resultante da presença de estrangulamentos nas estruturas reais da economia. Entretanto, o canal de transmissão ao nível de preços é explicado pelos autores de maneiras diversas, gerando-se, por conseguinte, diferentes propostas de estabilização. O artigo sublinha a flexibilidade metodológica e o grau de fragmentação teórica da abordagem cepalina, bem como a controvérsia sobre a inflação constituir parte do processo de desenvolvimento. A análise destes elementos revela uma tensão entre os aspectos keynesianos anglo-saxônicos na abordagem de Prebisch e a original teoria latino-americana proposta por Noyola e Furtado. Avalia-se em que medida este descompasso impediu a constituição de um corpo teórico diferenciado em matéria de estabilização monetária. 

Classificação JEL: B25, B30.


Taxa real de câmbio e mudança estrutural num modelo Kaldoriano de crescimento com restrição de balanço de pagamentos
Bernardo Mattos Santana, José Luis Oreiro
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572018v38n01a03

O presente artigo tem por objetivo desenvolver um modelo Kaldoriano de crescimento que (i) incorpore a restrição de balanço de pagamentos, eliminando assim a inconsistência presente nos MCRBP; e (ii) estabeleça um mecanismo pelo qual o nível da taxa real de câmbio possa afetar o crescimento de longo-prazo das economias capitalistas. Uma inovação importante introduzida no modelo que será desenvolvido ao longo desse artigo é a hipótese de que o coeficiente de Kaldor-Verdoorn - que capta a sensibilidade da taxa de crescimento da produtividade do trabalho com respeito a taxa de crescimento do produto real - depende da participação da indústria no PIB. Essa hipótese permitirá introduzir no modelo a possibilidade de mudança estrutural, a qual é entendida como um processo dinâmico mediante o qual a participação da indústria no produto se altera ao longo do tempo. Dessa forma, será possível analisar as propriedades dinâmicas do modelo tanto no caso em que a estrutura produtiva é mantida constante (caso sem mudança estrutural), como no caso em que a mesma se altera em decorrência de algum processo econômico (caso com mudança estrutural).

Classificação JEL: O1; O11; O12.


Reflexões sobre o velho e o novo desenvolvimentismo
Jan Kregel
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572018v38n01a04

O novo desenvolvimentismo proporciona uma visão da teoria do desenvolvimento do passado, bem como uma visão para o futuro. Esta avaliação aponta como ele incorpora as contribuições positivas de teóricos do desenvolvimento inicial preocupados com os problemas semelhantes da importância das taxas de câmbio no processo de desenvolvimento para fornecer uma versão contemporânea da teoria adaptada ao mundo do século XX e da financeirização.

Classificação JEL: F31; O11; O14.


Macroeconomia desenvolvimentista: uma avaliação pós-Keynesiana
Marco Flávio da Cunha Resende, Fábio Henrique Bittes Terra
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572018v38n01a05

A relação entre taxa de câmbio, investimento e crescimento econômico tem sido objeto de estudo de autores de diferentes matizes teóricos, e está no centro da análise do chamado Novo Desenvolvimentismo, cujo modelo foi sistematizado recentemente por seus autores, após muitos anos trabalhando neste tema e com diversos artigos publicados em periódicos nacionais e internacionais. O objetivo deste artigo é realizar uma avaliação crítica do Novo Desenvolvimentismo (DM). Conforme seu argumento central, os países em desenvolvimento apresentam apreciação crônica e cíclica da sua taxa de câmbio real que, por sua vez, impõe limites ao investimento e crescimento dos setores mais dinâmicos e de maior produtividade da economia, impedindo a convergência da renda per capita dos países em desenvolvimento e desenvolvidos. Constatamos diversas contribuições do DM à literatura, mas, também, equívocos, contradições e a necessidade de elaboração teórica em diversas áreas da economia para que seja alcançado um modelo coerente e completo, capaz de explicar as barreiras ao aumento da renda per capita nos países em desenvolvimento, como também as políticas necessárias para superá-las.

Classificação JEL: F 31; F41; O11; O14.


Determinação da taxa de câmbio e as falhas da teoria monetária convencional
Heiner Flassbeck
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572018v38n01a06

Os países em desenvolvimento geralmente precisam de flexibilidade e um número suficiente de instrumentos para prevenir a volatilidade excessiva. A evidência não apoia a crença ortodoxa de que, com os mercados financeiros internacionais flutuantes, seu desempenho ajustará as taxas de câmbio ao seu "equilíbrio". Na realidade, as taxas de câmbio sob um regime flutuante provaram ser altamente instáveis, levando a longos períodos de desalinhamento. A experiência com indexação também não foi satisfatória: a taxa de câmbio não pôde ser corrigida em casos de choque externo ou desalinhamento. Dada essa experiência, os regimes "intermediários" são preferíveis quando há instabilidade nos mercados financeiros internacionais.

Classificação JEL: E4; F.


Fluxos financeiros e o novo desenvolvimentismo
Fernando J. Cardim de Carvalho
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572018v38n01a07

O Novo Desenvolvimentismo focou sua atenção sobre os problemas comerciais criados, em grande medida, pelas divergências entre a taxa de cambio que mantem a conta corrente do balanço de pagamentos em equilíbrio e o que chama de taxa de cambio de equilíbrio industrial, a taxa que preservaria a competitividade das firmas industriais que operem na fronteira do estado-das-artes. O ND reconhece que essas taxas podem ser perturbadas por fluxos financeiros, mas o papel de movimentos da conta de capitais pode estar sendo subestimado. Este trabalho argumenta que fluxos financeiros têm sido realmente subestimados, o que pode tornar mais difícil a elaboração de politicas eficazes para corrigir o problema da sobrevalorização cambial.

Classificação JEL: F31; O11; O14.


Desenvolvimento e nação em Bresser-Pereira: uma “viagem redonda”?
Daniel Estevão Ramos de Miranda
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572018v38n01a08

O objetivo deste trabalho é analisar o tema do desenvolvimento na produção intelectual de Luiz Carlos Bresser-Pereira. Defende-se aqui que as mudanças em suas concepções estão fortemente ligadas às suas movimentações profissionais e políticas e propõe-se separar sua produção em quatro grandes variações: nacional-desenvolvimentismo, subdesenvolvimento industrializado, crise do Estado e novo desenvolvimentismo. Visto em perspectiva alongada, a obra de Bresser-Pereira revela para um autor em busca do protagonista do processo de desenvolvimento brasileiro.

Classificação JEL: B31.

 


Notas para a discussão do tempo na economia: uma modelagem heterodoxa
Enéas G. de Carvalho
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572018v38n01a09

O objetivo deste artigo é apresentar as principais contribuições heterodoxas (não deterministas) para a abordagem do tempo, em economia, e contrapô-las ao enfoque dominante. Adicionalmente, busca-se contribuir para o entendimento das razões pelas quais a concepção determinista do tempo ainda é dominante -e talvez hegemônica- entre os economistas. Esta situação tem permanecido assim apesar do fato de que a abordagem alternativa (não determinista) tenha se revelado mais adequada ao seu objeto e venha ganhando importância e atenção significativa em uma ampla gama de disciplinas científicas. Este artigo procura avançar uma hipótese explicativa para esta situação paradoxal e intrigante, sem ter, entretanto, a pretensão de dar uma resposta completa ou definitiva para esta importante e intricada questão.

Classificação JEL: B2; B5; B4; B1.


A degradação da socioeconomia brasileira
Marcus Alban
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572018v38n01a10

O Brasil nos últimos anos vem se caracterizando pelo desenvolvimento de uma série de atividades ilegais. Para compreender essa dinâmica, não considerada nas análises convencionais, propõe-se um Modelo Keynesiano Expandido, no qual as crises são explicadas pela substituição de atividades produtivas por atividades improdutivas e destrutivas. Com o modelo se analisa a trajetória socioeconômica desde o Plano Real, concluindo que, como a preocupação foi preponderantemente com a estabilização e não com o crescimento, as atividades produtivas nunca foram viabilizadas na escala adequada, abrindo o espaço para o avanço das improdutivas e destrutivas, que provocam uma crescente degradação do país. 

Classificação JEL: B52; E02; E12; K42.


Ideologia em estado puro: Juros e inflação para além da aparência neoclássica
Jorge Armindo Aguiar Varaschin
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572018v38n01a11

Há uma crença em parcela dos/as economistas brasileiros/as alusiva à possibilidade de análises econômicas que excluam influências ideológicas. A ortodoxia neoclássica funda sua pretensão científica apoiada na premissa de sua própria neutralidade, influindo no debate econômico nacional: o não reconhecimento de seu caráter ideológico, conforme esvazia de significação conceitos centrais como a inflação, interdita a discussão da qual faz parte. Este trabalho investiga esse deslocamento de conteúdo, cuja síntese manifesta-se através da temática inflacionária, apresentando esse “vazio” conceitual como momento de perda de sua eficácia analítica, mas que, justamente por isso, redimensiona seu papel como veículo ideológico.

Classificação JEL: B410; B590; Z00.


Objetividade valor e forma valor. Apontamentos de Marx para a segunda edição de O capital.
Rômulo Lima, Michael Heinrich
Brazilian Journal of Political Economy
https://doi.org/10.1590/0101-31572018v38n01a12

O artigo consiste em uma apresentação e em comentários à tradução, publicada aqui pela primeira vez em português, de extratos retirados dos cadernos preparatórios de Marx para a segunda edição de O capital, de 1872. O conteúdo desses extratos sublinham o caráter social da objetividade valor, o que indica a importância a análise da forma valor para a crítica social elaborada por Marx. Partindo dos diferentes tratamentos da forma valor contidas em Para a crítica da Economia Política (1859), O capital (1867) e O capital (1872),  os comentários abordam, além de aspectos práticos do problema, a particularidade do objeto de análise de Marx e sua diferença com relação ao objeto de estudo da Economia Política clássica.

Classificação JEL: Y60; B14; B12.